sábado, 22 de agosto de 2009

Crioulo

Eu vou acabar recebendo uns comentários desaforados, mas andei pondo em dia as leituras de jornais aqui de Cabo Verde, e continua em pauta a adoção do Crioulo (ou Kriolu, em Crioulo :P ) como segunda lingua oficial de Cabo Verde.

Olha, eu entendo o desejo de valorizar a cultura.

Mas é um vacilo. GRANDE.

Apostar numa lingua própria, que dentro de Cabo Verde mesmo tem variações devido ao isolamento das ilhas, em detrimento do português? Me explica a vantagem?

Fora que já se fala crioulo em casa! As crianças aprendem português na escola, em muitos casos quase como uma segunda lingua. As professoras recorrem ao crioulo por ser mais fácil, especialmente com as crianças menores, e a deficiência no ensino do português permanece. Mesmo na universidade, a composição em português da maioria dos estudantes não é perfeita.

Ai eu pergunto... quem se beneficia com isso? Porque o povo, oficial ou não, já fala e escreve em crioulo. Até porque o crioulo de Cabo Verde, diferente de outros, é 97% derivado do português (segundo o reitor da UNICV disse a um colega), já que não tinha lingua nativa pra se misturar. Algumas poucas expressões e a organização de algumas frases foge da norma portuguesa, mas é isso! Ou seja, em vez de ensinar melhor o português, estão discutindo oficializar o crioulo e criar mais uma forma de apartheid social, já que a população mais pobre nem na escola mais vai ter de aprender o português, e vai perder essa pequena vantagem que tinha. Já quem tem dinheiro em Cabo Verde, esses já falam mesmo português, inglês e francês...

8 comentários:

Amílcar Tavares disse...

É bem mais complicado João. Se fosse 99% derivado do português chamar-se-ia português. Acho eu...

Como notas, e bem, o crioulo é a língua dos cabo-verdianos e o português, apesar de ser oficial, não é bem usado e ensinado.

Acho que não se trata de ostracizar o português mas sim valorizar o crioulo, sistematizando-o, dotando-o de um alfabeto e de uma gramática.

O que se tem hoje é isto: um povo, duas línguas, nenhuma delas valorizada. E isto indica o caminho: mais e melhor ensino. Pois, falta, e sempre faltou, as competências necessárias para um ensino das línguas (francês e inglês inclusos), com qualidade.

Um abraço e bom fim-de-semana.

PS: Espero que a recuperação da operação tenha sido integral.

João Marcelo disse...

Amilcar,

Eu vejo o crioulo de Cabo Verde muito mais como um dialeto de português do que como uma lingua isolada... Se não fosse português, eu não conseguiria ler os textos escritos, com total compreenção, só estranhando o monte de X, K e U no meio :)

E entender o desejo de valorizar o crioulo, eu ainda acho que é um tiro no pé. Nações pequenas tem de investir na inserção num espaço mais amplo, e a lingua é uma arma pra isso. E queira ou não queira, uma valorização do crioulo vai implicar num prejuizo pro ensino do português.

Neda disse...

Espero que o Amilcar volte por aqui creio que ele talvez responda as minhas duvidas.
Ok, João exagerou um pouco, mas a verdade é que não encontrei ainda uma palavra em crioulo que não tenha origem no português. Gostaria de saber de onde bem o uso do "k" e por que o fonema "lh" virou "dj" ou por que se fala "ka ta sabi" e não simplesmente "ka sabi" e por ai vai. Idiomas, até mesmo dialetos, não são estáticos, vão mudando com o tempo e seguem caminhos independentes. O português que deu origem ao crioulo não é o português falado hoje, mas o português de mais de 500 anos atrás e convenhamos que não era o português das elites, mas o português dos marinheiros e feitores.
Entendo a necessidade de o Cabo Verdiano encontrar a sua identidade, valorizar as suas raízes, mas não acho que este seja o momento para fazer isso e não é só por que não se consegue chegar a um acordo quando a gramática. Pelo que tenho observado, a maioria das pessoas fala apenas o crioulo, alguns tem noções de português, mas ainda assim muito elementar. Saindo de Praia é isso que encontramos e essas pessoas são as que ficam com os piores empregos, aqueles que pagam pouco, quase nada. Os empregos que pagam melhor exigem o português, mesmo que razoável. Acompanhando a rádio observei que assuntos complexos são tratados exclusivamente em português, uma ou outra palavra de crioulo aqui e ali, as orientações da TACV em criolo, mas parecem alguém fazendo um sotaque diferente e usando Ka, bo, sabi ...e quem não fala mesmo português entende essas instruções? Penso que não. Para mim, oficializar o crioulo hoje é aumentar o abismo socio-economico. As escolas, que já não ensinsam bem o português, vão sentir ainda menos obrigação em fazê-lo, e uma parcela considerável da população vai ficar a margem das grandes discussões.
Existem outras formas de valorizar a cultura crioula sem limitá-la ao aspecto linguistico.

Amílcar Tavares disse...

Meus caros,

Eu devo ser aquele que menos falou sobre isso, pois acho que a língua cabo-verdiana, tão somente, deve ser estudada, estruturada, ensinada e compreendida.

Anda muito ruído pouco edificante por aí, de ambos os lados da "barricada". Lamentável.

Mas também acho que o português tem um péssimo tratamento em Cabo Verde e deve ser substancialmente melhorada.

Se é com K ou com C, não me interessa. Isso deixo para os linguístas.

Sobre os empregos, acho que os melhores vão para aqueles com um diploma. O facto de se dominar ou não o português é uma consequência. Sem um diploma não se é ninguém em Cabo Verde pois a nossa sociedade está assim formatada.

Um abraço ao casal.

Helga disse...

Call me crazy, but i think John has a point. Neda too. Why not? Amilcar too. :P

Difícil que pras pessoas escolarizadas de CV, além de Português é bom aprender inglês. Ou aprende inglês logo e foge do país? O difícil é, como diz o Diário da África, o ideal seria voltar e melhorar o país. Em que língua, aí já não sei. Mas com Português parece-me levemente menos trabalhoso, pois teria ajuda do Brasil (por exemplo).

Et disse...

Marcelo, cuidado! O povo fala Krioulo mas quer escrever português Lusitano… Qualquer tendência para o PB é mera coincidência... O Brasil já foi krioulo...Por esta kaboverdura... I m Sorry!

Ps: Txeka li: http://kauverdianu.blogspot.com/

Et disse...

Vou seguir este blog, o marcelo! a gente já se conhece?! Acho que sim... Um abraço académico!
eu estou aqui com as minhas ideias:http://kauverdianu.blogspot.com/

Sofia Fonseca disse...

Neda e JM

Keli e un asuntu ki pur akazu nunka nu toka na nos enkontrus li pa praia
Mas si nkumesa ta skrebeba nka ta kababa
Pur isu xab dexal pa nu falal otu ora
Mas xan so fla nhos ma moda amilcar fla.. Kuza e ben mas konplikadu
Mi e 100% a favor a alupec e a ofisializason di kriolu komu lingua primaria

Un abrasu
Sofia